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Apresentação charmosa dos encontros e desencontros de uma paixão adolescente
“Takara & Amagi” é um dorama sem enredo, mas não no sentido negativo que essa definição geralmente carrega. É aquilo que chamam de “character-driven story”, ou seja, uma história em que o foco é maior (ou total) nas ações dos personagens principais, em como se sentem e na motivação interna que os impulsiona. Não há um acontecimento externo que os obriga a agir, todos os eventos que surgem na narrativa são causados pelos próprios personagens e, nesse dorama, podemos conhecê-los melhor ao longo dos episódios em momentos de introspecção. Então, se você não gostar dos personagens logo de cara, talvez não irá curtir a história.
A primeira palavra que surge em mente quando tento definir esse dorama é “charmoso” — tanto que tive que colocar no título da resenha. A forma que os elementos narrativos são expostos, como a história se desenrola, as interações entre os personagens e a construção das cenas, tudo é muito bem integrado ao ambiente escolar e cria uma essência jovial que transparece ainda mais através das performances. Essa é a principal origem do charme, que é perceptível até mesmo em personagens mais apáticos como o Takara.
Desde o primeiro episódio somos apresentados à dinâmica do casal principal que se estende até o final. Amagi é o menino inseguro que tira conclusões precipitadas e tenta fugir de qualquer conflito. Takara é o tipo de pessoa que não expressa seus sentimentos de forma clara, deixando muitas brechas. Com isso, eles se retroalimentam de maneira negativa: o que o Takara não diz, o Amagi inventa e toma como verdade, e se essa “verdade” é confrontada, ele sai correndo (literalmente). No entanto, no restante dos episódios vemos os protagonistas tentando descobrir a melhor maneira de navegar por esses sentimentos, como agir com o outro, como comunicar o que estão sentindo, impor determinados limites, etc…
Resumindo, essa é uma história sobre dois adolescentes que ainda estão aprendendo a estar num relacionamento amoroso, descobrindo o que significa “namorar” — o Amagi, principalmente — e como a relação dos dois afeta seus respectivos círculos sociais no colégio.
Sobre os pontos fortes do dorama, não posso deixar de mencionar os momentos em que Takara, Amagi, Katori e Tanaka interagem entre si. É muito legal ver suas personalidades batendo de frente. Infelizmente, esses momentos são poucos, mas muito satisfatórios mesmo assim. Nesse sentido,“Takara & Amagi” é um bom exemplo do quanto personagens secundários podem ajudar uma história.
A direção é um outro ponto positivo. Existem cenas maravilhosas que seguem o famoso “show, don’t tell”. Por exemplo, ao invés de dizer como os personagens estão se sentindo, as suas reações para determinadas situações são exibidas. A exposição é puramente visual em vários momentos e isso é maravilhoso, já que não somos burros e podemos deduzir a partir das expressões faciais dos personagens, não é? E, além disso, as cenas em que todos os personagens estão enquadrados, um num canto da tela e o outro no canto oposto reagindo às ações um do outro, são as melhores!
Por incrível que pareça, a caracterização do Takara é a mais interessante do dorama. Ele é apresentado como uma pessoa distante, “um menino frio da era do gelo” quase sem expressão facial (não é questão de atuação, é só o personagem mesmo; um ponto muito bem exemplificado pelo 3º episódio) e incapaz de ter discussões minimamente profundas, como quando pula fora de uma conversa sobre Sócrates. Porém, é uma questão de aparências, uma persona que ele adota para conseguir se encaixar e obtém bastante sucesso nesse objetivo, até se apaixonar por Amagi. Após a percepção da paixonite, Takara se mostra muito poético, refletindo sobre seus sentimentos de maneira metafórica, afirmando que o sorriso de Amagi era como algo trazido pela primavera e que sua paixão foi crescendo gradualmente como a luz do sol que derrete a neve. Quando se apaixona de vez, diz “Sakura está em plena floração”. Quando quer ser mais direto sobre seus sentimentos para Amagi, diz “Eu sempre quero abraçá-lo de frente e não por trás”. É, mesmo sendo o menos expressivo, Takara acaba sendo o mais interessante.
O Amagi também possui seus momentos de desenvolvimento, especialmente para justificar alguns de seus comportamentos e apresentar a origem de sua insegurança, mas tal exposição é menos orgânica que a do Takara. Se mostrassem as cenas de flashback da infância do Amagi sem contexto, não ficaria surpreso se alguém achasse que são de outro dorama. Faz sentido para a história, mas implementaram com a mão pesada.
Katori e Tanaka não tem backstory, mas não é como se não houvesse um tiquinho de desenvolvimento para eles. Katori é o melhor-amigo-alma-gêmea do Amagi que o aconselha durante os perrengues e se torna o mediador de seu namoro. Tanaka é o cara de índole duvidável que cria um conflito na relação de Takara e Amagi, mas que também não chega a ser um monstro. Então, mesmo com pouco desenvolvimento, só o suficiente para não serem rasos, não é algo que chega a incomodar por conta das suas personalidades e pelos atores serem ótimos.
É uma história bem tranquila e gostosa de acompanhar. Consegue ser engraçada aqui, dar espaço para as emoções dos personagens ali e capturar uma lógica de pensamento que só faz sentido na cabeça de adolescentes e uma ingenuidade a respeito das relações amorosas por pessoas que não conhecem tanto o mundo. Ao assistir o dorama, adentramos meio que em uma dimensão paralela onde esses personagens vivem, regida pela lógica da juventude e seus desejos imediatos — já que adultos mal aparecem ao longo dos episódios, jogando o holofote na visão de mundo dos mais novos e como eles pensam que as coisas deveriam ser. Ou seja, Takara e Amagi estão tentando construir o seu “para sempre” no próprio mundinho deles. Os meninos raramente pensam a longo-prazo sobre o relacionamento, nem mencionam como ou se contarão para seus responsáveis, mas está tudo bem, já que estarão juntos. Para os dois, isso é o que importa.
~ ~ ~ ~ ~ ~
Esse é um dos meus doramas boys-love favoritos e revi pela 4ª vez para escrever essa resenha. Assisti pela primeira vez no lançamento, quando os episódios eram lançados semanalmente e não tive a melhor experiência. Recomendo que maratonem “Takara & Amagi”, acredito que esta é a melhor forma de mergulhar nesse BL.
Um abraço!
A primeira palavra que surge em mente quando tento definir esse dorama é “charmoso” — tanto que tive que colocar no título da resenha. A forma que os elementos narrativos são expostos, como a história se desenrola, as interações entre os personagens e a construção das cenas, tudo é muito bem integrado ao ambiente escolar e cria uma essência jovial que transparece ainda mais através das performances. Essa é a principal origem do charme, que é perceptível até mesmo em personagens mais apáticos como o Takara.
Desde o primeiro episódio somos apresentados à dinâmica do casal principal que se estende até o final. Amagi é o menino inseguro que tira conclusões precipitadas e tenta fugir de qualquer conflito. Takara é o tipo de pessoa que não expressa seus sentimentos de forma clara, deixando muitas brechas. Com isso, eles se retroalimentam de maneira negativa: o que o Takara não diz, o Amagi inventa e toma como verdade, e se essa “verdade” é confrontada, ele sai correndo (literalmente). No entanto, no restante dos episódios vemos os protagonistas tentando descobrir a melhor maneira de navegar por esses sentimentos, como agir com o outro, como comunicar o que estão sentindo, impor determinados limites, etc…
Resumindo, essa é uma história sobre dois adolescentes que ainda estão aprendendo a estar num relacionamento amoroso, descobrindo o que significa “namorar” — o Amagi, principalmente — e como a relação dos dois afeta seus respectivos círculos sociais no colégio.
Sobre os pontos fortes do dorama, não posso deixar de mencionar os momentos em que Takara, Amagi, Katori e Tanaka interagem entre si. É muito legal ver suas personalidades batendo de frente. Infelizmente, esses momentos são poucos, mas muito satisfatórios mesmo assim. Nesse sentido,“Takara & Amagi” é um bom exemplo do quanto personagens secundários podem ajudar uma história.
A direção é um outro ponto positivo. Existem cenas maravilhosas que seguem o famoso “show, don’t tell”. Por exemplo, ao invés de dizer como os personagens estão se sentindo, as suas reações para determinadas situações são exibidas. A exposição é puramente visual em vários momentos e isso é maravilhoso, já que não somos burros e podemos deduzir a partir das expressões faciais dos personagens, não é? E, além disso, as cenas em que todos os personagens estão enquadrados, um num canto da tela e o outro no canto oposto reagindo às ações um do outro, são as melhores!
Por incrível que pareça, a caracterização do Takara é a mais interessante do dorama. Ele é apresentado como uma pessoa distante, “um menino frio da era do gelo” quase sem expressão facial (não é questão de atuação, é só o personagem mesmo; um ponto muito bem exemplificado pelo 3º episódio) e incapaz de ter discussões minimamente profundas, como quando pula fora de uma conversa sobre Sócrates. Porém, é uma questão de aparências, uma persona que ele adota para conseguir se encaixar e obtém bastante sucesso nesse objetivo, até se apaixonar por Amagi. Após a percepção da paixonite, Takara se mostra muito poético, refletindo sobre seus sentimentos de maneira metafórica, afirmando que o sorriso de Amagi era como algo trazido pela primavera e que sua paixão foi crescendo gradualmente como a luz do sol que derrete a neve. Quando se apaixona de vez, diz “Sakura está em plena floração”. Quando quer ser mais direto sobre seus sentimentos para Amagi, diz “Eu sempre quero abraçá-lo de frente e não por trás”. É, mesmo sendo o menos expressivo, Takara acaba sendo o mais interessante.
O Amagi também possui seus momentos de desenvolvimento, especialmente para justificar alguns de seus comportamentos e apresentar a origem de sua insegurança, mas tal exposição é menos orgânica que a do Takara. Se mostrassem as cenas de flashback da infância do Amagi sem contexto, não ficaria surpreso se alguém achasse que são de outro dorama. Faz sentido para a história, mas implementaram com a mão pesada.
Katori e Tanaka não tem backstory, mas não é como se não houvesse um tiquinho de desenvolvimento para eles. Katori é o melhor-amigo-alma-gêmea do Amagi que o aconselha durante os perrengues e se torna o mediador de seu namoro. Tanaka é o cara de índole duvidável que cria um conflito na relação de Takara e Amagi, mas que também não chega a ser um monstro. Então, mesmo com pouco desenvolvimento, só o suficiente para não serem rasos, não é algo que chega a incomodar por conta das suas personalidades e pelos atores serem ótimos.
É uma história bem tranquila e gostosa de acompanhar. Consegue ser engraçada aqui, dar espaço para as emoções dos personagens ali e capturar uma lógica de pensamento que só faz sentido na cabeça de adolescentes e uma ingenuidade a respeito das relações amorosas por pessoas que não conhecem tanto o mundo. Ao assistir o dorama, adentramos meio que em uma dimensão paralela onde esses personagens vivem, regida pela lógica da juventude e seus desejos imediatos — já que adultos mal aparecem ao longo dos episódios, jogando o holofote na visão de mundo dos mais novos e como eles pensam que as coisas deveriam ser. Ou seja, Takara e Amagi estão tentando construir o seu “para sempre” no próprio mundinho deles. Os meninos raramente pensam a longo-prazo sobre o relacionamento, nem mencionam como ou se contarão para seus responsáveis, mas está tudo bem, já que estarão juntos. Para os dois, isso é o que importa.
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Esse é um dos meus doramas boys-love favoritos e revi pela 4ª vez para escrever essa resenha. Assisti pela primeira vez no lançamento, quando os episódios eram lançados semanalmente e não tive a melhor experiência. Recomendo que maratonem “Takara & Amagi”, acredito que esta é a melhor forma de mergulhar nesse BL.
Um abraço!
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